segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Instabilidade das relações de trabalho contemporâneas

Como a Comunicação Interna e a Gestão de Pessoas podem atuar neste contexto


*Margareth Dias Machado


A sociedade contemporânea vivencia um tempo em que as relações sociais estão baseadas em características tais como, flexibilidade, instabilidade e curto prazo. Neste contexto, verificamos mudanças drásticas de parâmetros para se pautar a vida, encontrando implicações também nas relações de trabalho que, inevitavelmente, acompanham estas mudanças e se estabelecem num cenário corporativo diferente daquele em que o longo prazo, a estabilidade e a rigidez vigoravam.  
Diante deste novo cenário é pertinente refletirmos sobre a atuação da Comunicação Interna e da Gestão de Pessoas dentro das organizações, pois estas duas áreas, por lidarem diretamente com a força de trabalho de uma organização, necessitam acompanhar as transformações e propor novas soluções. Sennett (2009) alerta que, na atualidade, as empresas privilegiam relações frouxas e passageiras, concretizadas por meio de redes flexíveis, organização dos funcionários em equipes para assim trabalharem em projetos de curta duração e a exigência de compromisso, além do desejado pelos funcionários, para com as atividades da empresa. (SENNETT, 2009, p. 99-103). A alta rotatividade presente no atual ambiente corporativo também é resultado da descontinuidade que vem tomando conta do ambiente profissional e é resultado não só das demissões, mas também da disposição da força de trabalho atual de sair de uma empresa em busca de outra oportunidade que seja mais atraente.
O desafio, portanto, está lançado aos profissionais responsáveis pela Comunicação Interna e Gestão de Pessoas de uma organização, pois é necessário lidar com nuances trazidas por um novo contexto. E, ao pensarem em formas de lidar com essas novas características e comportamentos, presentes nas atuais relações de trabalho, será mais do que necessário levar em conta também a diversidade com que é constituído o público interno, que devido à flexibilização, compreende vários tipos de contrato de trabalho: “[...] prestadores de serviço, cooperativados, funcionários de carreira, freelancers, terceirizados, home office entre outros”  (ESTRELLA;FERNANDEZ, 2009, p.128).
A importância de atribuir à Comunicação Interna e à Gestão de Pessoas a tarefa de atuarem dentro deste novo cenário, considerando as peculiaridades das relações de trabalho atuais, deve-se ao papel fundamental desempenhado pelo público interno para que uma organização desempenhe suas atividades, daí o fato de esse público ser considerado “[...] um público estratégico e multiplicador dos mais importantes de uma organização”. (KUNSCH, 2003, p.121).
Essa tentativa de restabelecer aspectos importantes que foram deixados de lado nas relações de trabalho, como o compromisso, engajamento, motivação, envolvimento, longo prazo, etc. visa a trazer para o ambiente corporativo um cenário propício ao desenvolvimento de uma relação que ofereça benefícios tanto para a organização quanto para os funcionários. Esse equilíbrio deve ser buscado para que ambos possam ter suas necessidades satisfeitas, e é nesse ponto que a Comunicação Interna e a Gestão de Pessoas devem atuar, já que interagem com o público interno e precisam estar atento às suas características, insatisfações, necessidades e assim desenvolverem estratégias de relacionamento que estabeleçam um ambiente organizacional favorável.
A postura de reconhecer verdadeiramente o público interno como parceiro essencial para que a organização desempenhe suas atividades e a humanização das relações de trabalho são aspectos que não podem ser abandonados, principalmente diante desta nova conjuntura.
 A área de Gestão de Pessoas, ao desenvolver os seis processos organizacionais: agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar pessoas (CHIAVENTATO, 2004, p.528) pode contribuir para que a relação empresa-funcionário seja estabelecida de forma benéfica, justa e humanizada, assim como a área de Comunicação Interna que para criar uma comunicação coerente e eficiente necessita conhecer as características da força de trabalho.
O primordial é que mesmo diante de mudanças que tragam prejuízos para as relações trabalhistas estejamos atentos a formas de amenizá-los, e se possível bani-los, para dessa forma impedirmos que essas relações pereçam. As práticas de Gestão de Pessoas e Comunicação Interna, ao estarem direcionadas para o relacionamento com os funcionários, não podem utilizar velhas concepções para atuarem junto às transformações do mundo do trabalho. É preciso repensar suas estratégias, conceitos e elementos e voltá-los para a nova realidade a fim de, no curto prazo, amenizar os efeitos das características do atual cenário corporativo, e, no longo prazo, recuperar valores como engajamento, estabilidade e vínculos fortes entre empresas e funcionários.

*Margareth Dias Machado é graduada em Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas, pela UERJ. Atualmente, é assessora de imprensa do Departamento Cultural da UERJ. Sua monografia foi indicada ao Prêmio Ser Humano, organizado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH – RJ), na categoria trabalhos acadêmicos.

Referências Bibliográficas
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 2. ed. rev. e atual.Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 529 p.
ESTRELLA, Charbelly; FERNANDEZ, Rosane. A importância do público interno na comunicação institucional: a produção de evento como recurso estratégico. In: ESTRELLA, Charbelly; BENEVIDES, Ricardo; FREITAS, Ricardo Ferreira (org.). Por dentro da comunicação interna: tendências, reflexões e ferramentas. Curitiba: Champagnat, 2009. 223 p.
KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada. São Paulo: Summus Editorial, 2003. 417 p.
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do caráter no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2009. 204 p.


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